segunda-feira, 30 de abril de 2018

Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p.

DATASENADO. Panorama da violência contra as mulheres no Brasil: indicadores nacionais e estaduais. Panorama da Violência Contra As Mulheres no Brasil, Brasilia, v. 1, p.1-71, jan. 2016. Anual. Disponível em: < http://www.senado.gov.br/institucional/datasenado/omv/indicadores/relatorios/BR.pdf&usg=AOvVaw1RS1XV06F1-GKwZMglcTP8>. Acesso em: 30 abr. 2018.

INEP: Mapa do Analfabetismo no Brasil. Brasilia: Inep, 2003. Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/documents/186968/485745/Mapa+do+analfabetismo+no+Brasil/a53ac9ee-c0c0-4727>. Acesso em: 30 abr. 2018.

MATIELLO, Catiane. NARRATIVAS TECNOLÓGICAS, DESENRAIZAMENTO E CULTURA DE RESISTÊNCIA: HISTÓRIA ORAL DE VIDA DE FAMÍLIAS DESAPROPRIADAS PELA CONSTRUÇÃO DA USINA HIDRELÉTRICA DE ITAIPU. 2011. 303 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Tecnologia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2011.

PERES, Marcos Augusto de Castro. Velhice e analfabetismo, uma relação paradoxal: a exclusão educacional em contextos rurais da região Nordeste. Soc. estado., Dez 2011, vol.26, no.3, p.631-662.

PNAD: Educação 2016. [s. L]: Ibge, 2016. Disponível em: <https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv101434_informativo.pdf>. Acesso em: 30 abr. 2018.

ANÁLISE: Analfabetismo, carinho e afeto



O analfabetismo se configura como uma condição de privação de acesso a tipos de educação e cultura que determina a posição das pessoas no seio social.
No Brasil, dados de 2016 (Tabela 1) apontam número de 11,8 milhões (7,2%) de pessoas acima de 15 anos sem instrução formal (IBGE, 2017). Nos anos 70 e 80, a taxa de analfabetismo era de 33,7% e 25,9%, respectivamente. A queda geral da taxa foi expressiva, pois em 1900 era de 65,3% da população, enquanto que em 2000 era de 13,6% — Tabela 2(INEP, 2003).

Na região nordeste, terra da Zenilda, a taxa é a maior do país, com 14,8% (dados de 2016).

Tabela 1 Tava de analfabetismo no Brasil 

Fonte: IBGE, 2016



A taxa de analfabetismo na população idosa é bastante expressiva, o que mostra que não há atenção a pessoas com mais de 60 anos. Peres (2011), ao analisar o analfabetismo entre as pessoas idosas, responsabiliza o Estado e o capitalismo por não se interessarem por pessoas que estariam fora de suas respectivas vidas produtivas. Para ele, essa despreocupação explicaria a falta de políticas voltadas para a educação da população idosa, quando o principal foco no sistema de é a educação de crianças de jovens, os futuros empregados.
A condição a qual os analfabetos de qualquer idade permanecem é a de marginalização, que limita suas opções de vida e emprego. Conforme Peres,
Se considerarmos o acesso à educação formal como a possibilidade de ter contato com o conhecimento científico, a literatura, a filosofa, a arte, enfim, com a linguagem escrita como forma de expressão e comunicação, então constatamos que não saber ler e escrever significa não dispor dos recursos de interação com o “mundo civilizado” da sociedade ocidental capitalista (PERES, 2011, pg. 632)

O “mundo civilizado” mencionado por Peres é aquele em que todos se entendem e onde qualquer tipo de educação e oportunidades estão para aqueles que sabem ler. Os analfabetos têm sua inserção nesse mundo muito marginalizada, ficando com pouco espaço para que tenha outras condições de lazer, cultura e trabalho.
Conforme relato de Zenilda,
Não tive oportunidade de ir para a escola porque ela [a mãe] não deixava. Quando começava as aulas, eu nunca ia, nunca terminava um ano. Meu pai brigava com ela, e aí já era motivo de não deixar eu ir para escola. Ela falava que quem morava dentro dos matos não precisava ir para escola, para que mulher ir para a escola, não tinha motivo. Então ela não deixava. Eu ia uma semana ou duas, ela ficava com raiva porque brigava com meu pai, e não me deixava ir mais, a briga já era motivo. Se eu tivesse tipo a oportunidade de ir para a escola, eu queria ter uma profissão: ser costureira. Fazer vestido para noiva, porque eu gosto muito de mexer com roupa, costurar, cortar. Não tive essa oportunidade.
O desejo de ter uma profissão é impedida pela falta de acesso à escola quando criança e hoje, adulta, embora não seja impossível, a mudança de profissão é tremendamente dificultada.


Gráfico 1 Relatos de violência (100 mil habitantes) 2014 - Ligue 180/SPM
 

Fonte: DATASENADO, 2016
Um tópico que deve ser mencionado e que é muito presente nos dias atuais (ainda mais na época da Zenilda) é a ideia de que mulheres não deveriam frequentar a escola. Para a mãe de Zenilda, ao sinal de qualquer atitude que ela considerasse errada por parte da filha, já era a deixa para que ela não permitisse que a filha fosse às aulas.
Escola não ia porque minha mãe não me deixava ir. As aulas começam e eu não terminava as aulas porque bastava ela ficar com raiva de alguma coisa que já não me deixava ir. Se ela me mandasse varrer a casa e não fizesse direito, era motivo para não me deixar ir à escola. A gente ia para a casa do meu avô e ela voltava de lá com raiva, e isso já era motivo para não deixar eu ir para a escola.

O relato de Zenilda permite ver mais um ponto importante que tem a ver com violência doméstica e afeto. As taxas de violência doméstica no país são altíssimas (vide Gráfico 1) e trazem consequências graves para a vida da vítima e acaba por influenciar a vida familiar. 

A mãe de Zenilda tinha medo do marido e descontava a raiva que passava por conta dele nos filhos. As mais afetadas, além da mãe, eram as filhas meninas, que não podiam ir à escola. A causa do sofrimento da mãe eram duas: a violência do marido e a violência que passou quando era mais nova, que está ligado a falta de afeto e carinho na família. Conforme diz Zenilda sobre a mãe: “Por que ela é uma pessoa assim? Porque minha avó era uma pessoa ignorante. Aí minha mãe casou com meu pai, que também era ignorante, e batia nela, assim como minha avó. Então desde que nasceu, ela viveu naquele mundo da ignorância”. 

Como visto, a violência que a avô recebeu quando criança e na vida adulta acabaram moldando sua personalidade e o tratamento que ela daria às filhas, que acabaram não frequentando a escola e, assim, tiveram seus “projetos de vida” impossibilitados.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988. 292 p. ...